quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sobre o flash e a fotografia...

Robert Capa e John Steinbeck estavam na União Soviética pela primeira vez, quando em um vilarejo chamado Chevtchenko assistem a uma peça de teatro...

"“O tratorista havia acabado de dar quatro ou cinco passos no palco, e a história havia apenas começado, quando Capa acionou seus flashes para fazer a primeira foto. Isso interrompeu de imediato o desenrolar da peça. A garota de unhas pintadas escondeu-se atrás de umas samambaias e não voltou a mostrar a cara durante todo o resto da cena. O tratorista esqueceu o texto. A líder de brigada tropeçou e tentou em vão salvar a apresentação. O restante da peça foi representado como um eco, com os atores repetindo as falas sussurradas pelo ponto, de modo que se ouvia tudo em duplicata. E toda vez que estavam prestes a se recompor, Capa disparava seus flashes e os deixava desconcertados. (…) A natureza irresponsável da moça decadente era simbolizada tanto pelo esmalte vermelho das unhas como por um colar de contas de vidro e bijuterias vistosas. E o espoucar dos flashes a deixou tão nervosa que ela rompeu o colar e as contas espalharam-se por todo o palco. Foi aí que a peça desandou de uma vez por todas.”
“O público adorou. E aplaudia entusiasticamente toda vez que havia um disparo de flash.”

John Steinbeck
Retirada do Livro Um Diário Russo
Cosac Naify- 2003

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